terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma abordagem psicanalítica da crise

por: ALEXANDRA FERREIRA

Por que a pessoa exagera ao investir em ações sabendo que está sujeita à perda? Por masoquismo? Não. Embora a bolsa seja indissociável da oscilação, o investidor tem certeza de que vai ganhar. Negando a realidade dos fatos, diz para si mesmo que ele não há de perder. Exatamente como o fumante diz que ele não há de ter câncer. "Não é comigo" e vai em frente. Insiste na ilusão de que não corre risco porque, como todos nós, desacredita a realidade que o contraria.
O comportamento de risco exacerbado na bolsa implica fazer pouco do gozo presente do dinheiro e negar a possibilidade de fenecer antes da alta. A pessoa comporta-se como se não estivesse exposta à morte e aos seus caprichos, como se tivesse o controle do tempo. Procede assim porque, como todos, ela inconscientemente não acredita que seja mortal.
A crise econômica revela as razões subjetivas pelas quais nos tornamos vítimas dela, ficando, por exemplo, nas mãos da bolsa em vez de dispor do dinheiro para investir em iniciativas palpáveis ou gastar sem culpa e ser feliz. No afã de capitalizar-nos investindo em ações, esquecemos o tempo que passa e nos determina. A bolsa tanto serve à fantasia da capitalização mágica quanto à da imortalidade. Daí o fascínio que ela exerce. Daí o risco que significa.
Não há como escapar às conseqüências da crise, mas esta nos servirá se aprendermos que a ilusão pode trazer grandes dissabores e a negação da realidade pode ser mortífera. Se formos capazes de nos confrontarmos não só com as razões objetivas, mas subjetivas do colapso econômico.
Paradoxalmente, a crise pode ser benéfica porque graças a ela podemos nos reposicionar, reconsiderando a nossa relação com o dinheiro e a vida. E talvez concluindo que pagar a capitalização com o sono perdido não compensa, é caro demais.
fonte: www.veja.com.br

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