segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Google: presidente fala sobre os próximos dez anos

POR: SAYMON NOGUEIRA LIMA

O
Google completou recentemente seu 10° aniversário, e alguns analistas e investidores passaram a dizer que a empresa já começa a apresentar os primeiros sinais de maturidade. O crescimento do grupo, embora ainda rápido, se reduziu significativamente e deve cair ainda mais em função da desaceleração econômica. O presidente-executivo Eric Schmidt disse que sua empresa estava em melhor posição do que outros grupos publicitários para sobreviver a uma recessão.

Schmidt falou no começo do mês, na sede da empresa em Mountain View, Califórnia, sobre seus planos para gerir a empresa em meio à crise, sobre o colapso da parceria publicitária com o
Yahoo e sobre o apoio que expressou à candidatura presidencial de Barack Obama, de cuja equipe econômica de transição o executivo do Google é membro.

Pergunta - O Google está batalhando para cortar despesas. Isso se deve ao amadurecimento da empresa ou à crise econômica? E até que ponto o senhor acha que a crise vai se agravar?
Resposta - A questão que enfrentamos, na crise, é não saber, como executivos, quanto ela vai durar. Qual seria a resposta prudente, assim? Controlar contratações é uma medida prudente. Continuamos contratando, mas em ritmo menos intenso. Também começamos a realizar revisões detalhadas de despesas para garantir que não desperdicemos dinheiro.

P - Dada a incerteza, o senhor planeja para o pior cenário possível ou para outra hipótese?
R - É algo a decidir. O Google está em boa posição de longo prazo. Nosso produto é mais mensurável e direcionável, e somos os inovadores em nosso espaço. Vai chegar o momento em que as empresas terão de começar a vender, e também vai chegar o momento em que perceberão que publicidade mensurável é a melhor publicidade, e que nós o fazemos.


P - O Google é conhecido por investir liberalmente em projetos que não geram retorno imediato. As novas medidas de austeridade, se é que esse é um bom nome, mudarão isso?
R - É interessante que você usa a palavra austeridade. Não somos muito austeros. Eu prefiro o termo foco. Nós vamos cuidar de certas despesas potencialmente pesadas e com retornos incertos. Mas também vamos continuar investindo em pequenas equipes que desenvolvem coisas malucas.


P - Há projetos que foram desenvolvidos no passado - como o Chrome, o navegador do Google para a Web, ou o sistema operacional Android para celulares - que o senhor não desenvolveria agora?
R - Se, dado o mercado atual, ainda assim desenvolveríamos as coisas que você mencionou? Certamente. No futuro, talvez desenvolvamos menos projetos. O problema é que, se apertarmos demais, eliminamos a inovação futura e nos colocamos em má situação para daqui a cinco ou dez anos.


P - O Google é conhecido por benefícios generosos para os funcionários. É possível conter despesas sem afetar essa cultura?
R - As pessoas que administram essas coisas são muito sensíveis quanto aos fatores realmente importantes versus as experiências ou o simples desperdício. Mas não pretendemos abrir mão de aspectos realmente importantes de nossa cultura.


P - Não é menos divertido administrar uma empresa que precisa cuidar dos gastos?
R - Na verdade, creio que é mais divertido. Porque é fácil ser um executivo de sucesso em períodos de alta. Já liderar em momentos em que é preciso fazer escolhas difíceis é muito mais difícil e, em minha opinião, muito mais compensador.


P - No começo da semana, o Google abriu mão de sua parceria publicitária com o Yahoo, depois que o Departamento da Justiça anunciou que a investigaria. O Yahoo declarou que pretendia defender o caso nos tribunais, e se disse decepcionado por o senhor não querer fazê-lo. O interesse do Yahoo no acordo era maior que o do Google?
R - Não conseguimos convencer o Departamento da Justiça quanto a algo em que acreditamos muito - que os anunciantes receberiam mais, e não menos, por meio do acordo. Decidimos, depois de muito debate, que um longo e dispendioso julgamento não nos servia, ainda que acreditássemos que nossa causa venceria no fim.


P - É a primeira vez que as autoridades regulatórias bloqueiam um negócio do Google. O senhor está preocupado que isso aconteça com mais freqüência agora, como prevêem muitos observadores? E, sendo assim, foi um erro do Google propor o acordo?
R - Não lamentamos ter tentado fazer o que era certo, de nosso ponto de vista. Mudanças geram riscos. Compreendíamos o risco.


P - O Google vai mudar sua forma de pensar sobre possíveis acordos, depois desse incidente?
R - Provavelmente não. Acredito que a situação que vivemos quanto a isso tenha sido única.


P - O senhor apoiou publicamente a candidatura presidencial e Barack Obama, afirmando, entre outras coisas, que apreciava o plano econômico que ele propôs. Há outras idéias ou propostas que, em sua opinião, possam ajudar o país e o Vale do Silício? R - A posição mais forte que tomei quanto a um ponto econômico, com o senador, agora presidente eleito, Obama, era quanto a um esforço de tentar resolver todos os nossos problemas econômicos de uma vez. E a maneira mais fácil de fazê-lo, na política interna ao menos, seria um programa de estímulo que recompense a energia renovável e, com o tempo, substitua combustíveis fósseis por energia renovável. Os cálculos do Google, que anunciamos há cerca de um mês, indicam que se poderia economizar US$ 1 trilhão, em 22 anos, com o investimento nessas tecnologias, o que reduziria nossa dependência quanto ao petróleo.


P - O senhor se preocupou com a possibilidade de que seu apoio a Obama fosse visto como apoio do Google, especialmente por a empresa poder se beneficiar de algumas de suas propostas, como a defesa da neutralidade da rede ou a promoção da energia limpa? R - Sim, e debatemos a questão na companhia extensamente. Por fim concluí que, já que tantos presidentes-executivos estavam apoiando o candidato republicano, não haveria problema em que um presidente-executivo apoiasse o democrata.



P - Barack Obama anunciou que vai apontar um secretário da Tecnologia, em seu governo. O senhor conversou com a equipe dele sobre a possibilidade de ocupar esse cargo, ou talvez outros no novo governo?
R - Estou muito feliz servindo aos acionistas do Google como seu presidente-executivo, e por isso não quero ser funcionário do governo.

Tradução: Paulo Migliacci ME
Fonte: The New York Times

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